POEMAS COMENTADOS ENEM 2021

   

   POESIAS PARA O ENEM 2021

 POESIAS COMENTADAS


     PUBLICADO EM 15/03/2021 POR Valdete F.de Lima Freitas

Poesia de resistência em tempos de pandemia e neofascismo

O amor, a solidão e a incompletude da vida no momento atual permeiam o segundo livro do poeta mineiro João Gabriel


PN

Paulo Nogueira

22/01/2021 04:00 - atualizado 22/01/2021 08:40

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(foto: ARQUIVO PESSOAL)(foto: ARQUIVO PESSOAL)

"A poesia em tempos hipercapitalistas como os nossos só pode servir pra resistir”, diz João Gabriel, ao definir um dos sentimentos manifestados em seu segundo livro de poemas, que acaba de ser lançado. Em tempos de (re)ascensão do fascismo, fake news e pandemia, “desinformação, anticiência, fascismo explícito”, como ele mesmo define, é preciso mesmo resistir.

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Resistir à solidão (do isolamento), à opressão, ao medo, à amargura, à falta da presença do outro e até de si próprio, a incompletude? “Estou sozinho no banco da praça, na sala de casa, no que resta das horas. A solidão justifica a demora e a falta sentida assim, caminhando a meu lado, na beleza que o mundo empresta, é a presença que me resta”, diz o jovem poeta de BH, nos belos versos finais de A falta.

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Vende-se um elefante triste reúne 25 poemas, boa parte escrita durante a pandemia, e os títulos da maioria já permitem ao leitor imaginar o que vem: Dos brutos, Paciência, O poema do amor derradeiro, Era uma vez..., Entre homens covardes, Pobre Diabo, Manual para arrancar a dor do peito, Ode do tempo perdido, Ralé, A falta, Dia do juízo, Corpo fechado... Todos parecem ter a ver com a peste do coronavírus. E têm, de uma forma ou de outra.


Fernando Pessoa declamou ao mundo: “O poeta é um fingidor, finge tão completamente, que finge que é dor a dor que deveras sente”. João Gabriel não finge, depura a solidão, o sofrimento e a angústia dos seres mortais assombrados pela dor e pela morte destes tempos sombrios. Mas sofrimento também é superação: “O verso em cima da mesa é que aponta o bonito em meio a tanta tristeza, cura o coração machucado, o peito rasgado nos cacos da delicadeza, deste espírito condenado a vibrar indelicado”, como diz o poema Corpo fechado.

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Também é preciso até rir de si mesmo e também encarar a tristeza. O poema Meu elefante fala de um paquiderme posto no telhado e da necessidade de tirá-lo de lá para acabar com sua tristeza. No chão, homem e elefante poderão rir juntos na suposta solidez do solo. “É um poema sobre tristeza, sobre, ao invés de fugir da tristeza, como é costume nos tempos atuais, se colocar ao seu lado,” conta João Gabriel.


E o que dizer do encontro com o Pobre Diabo? Os desatinos do ser humano sobre a face da Terra são tão absurdos que até mesmo o diabo está impressionado e nem quer saber de pacto. Flagrado  em sua tristeza, ele já adianta: “Não tenho culpa de nada”. Não é? Parece que  o homem já não pode contar com o diabo para maldades terrenas porque as suas já bastam para atrair a morte.


Como diz João Gabriel, parafraseando Manuel Bandeira, uma de suas fontes de inspiração: “O que nos resta é dançar um tango argentino”, ou, melhor ainda, comprar um elefante triste.


VERSOS FALADOS

Diante do confinamento obrigatório causado pela pandemia, Vende-se um elefante triste não teve lançamento presencial, mas chega em grande estilo ao mercado com uma ótima sacada: declamado pelas redes sociais. Pelo Instagram (@osapoeta), os poemas de João Gabriel são lidos por pessoas diversas, entre elas o ator Antônio Fagundes, que declama Ralé: “Daqui do meu canto, as coisas nunca foram tão bonitas. e não que falte beleza ou outra coisa nas coisas, mas as horas passam, malcriadas por mim e de demoras disfarçadas, sem que eu saiba enfeitiçá-las. se houvesse deitá-las em uma rede de estrelas talvez – e só talvez –, chegasse o tempo em que discriminaríamos os porquês. daqui, da ralé do momento, se muito respiro fundo. tento achar a beleza escondida das vidas de que não me lembro”.


O projeto gráfico-editorial é outro forte atrativo do livro, com versos ilustrados pela artista plástica Bia Pessoa. “Conseguimos um ajuntamento perfeito entre desenho e palavra”, explica João Gabriel para apresentar seus versos, que entrega aos leitores, cada qual com sua visão dos seus belos poemas.


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 Como diria a portuguesa Florbela Espanca, com seu poema Poetas: “Ai, as almas dos poetas/Não as entende ninguém/São almas de violetas/Que são poetas também/Andam perdidas na vida/Como as estrelas no ar/Sentem o vento gemer/Ouvem as rosas chorar/Só quem embala no peito/Dores amargas e secretas/É que em noites de luar/Pode entender os poetas/E eu que arrasto amarguras/Que nunca arrastou ninguém/Tenho alma pra sentir/A dos poetas também!”


Corpo fechado

Se notares, um dia,

meu medo, meu segredo,

e meu corpo fechado

no quarto,

perdoa o meu peito

por bater indelicado.

E ao me achares

perdido, dando ares

de louco

saiba que, aos poucos,

vou inventando meu lado,

da porta fechada

que guarda

meu coração indelicado.

O verso em cima

da mesa

é que aponta o bonito

em meio a tanta tristeza,

cura o coração machucado,

o peito rasgado

nos cacos da delicadeza,

deste espírito condenado

a vibrar indelicado.


Pobre Diabo

Encontrei o Diabo

e ele estava triste.

Não foi um encontro marcado,

o Diabo vinha passando

sem sequer olhar pro lado

e distraído, o Coitado,

tropeçou no próprio rabo.

Estendi-lhe minhas mãos

mas seus olhos não

fizeram festa –

ajudei o pobre diabo

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a recuperar-se da queda.

Já de pé, agradeceu-me

com algumas

palavras tranquilas e

comentou alguma coisa

sobre o clima, os fatos do dia,

soltou um suspiro profundo

e já ia dando no pé.

Mas, eu me aprumei e

lhe disse,

“O sr. é o Diabo, não é?”

Não tinha certeza, de fato,

mas segui

“Tive dúvida quando não vi

os chifres, o sr. está de chapéu,

mas logo notei pelo rabo.”

Ele me olhou assustado,

pálido, com os olhos vermelhos

marejados de lágrimas.

Pobre Diabo,

parecia um fantasma.

Fez menção de ir embora,

mas colocou

o dedo e me disse

– Eu não tenho culpa de nada!

Era de se notar

o quanto estava triste.



Entrevista/João Gabriel


“Se eu fosse o diabo, teria pavor do ser humano”

Os poemas do seu novo livro parecem unir sentimentos de fracasso e de resistência diante de um mundo doente. Poesia é resistência ou resignação?

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Escrever, em momentos históricos, é um grande desafio: guerras, pandemias, ascensões fascistas, fatos que atingem grande populações são paralisantes porque acabam viciando as conversas, os acontecimentos, tornam a realidade monocromática. Mas a criação não passa só por escrever, é também reunir, dar forma, analisar o que já foi feito, pra assim dizer destes tempos. Escrever, pra mim, é deixar o poema, ou qualquer texto, crescer num ponto em que eu não possa mais contê-lo.

Esses momentos de escrita me agitam, me fazem andar de um lado pro outro, mas me deixam alheio do resto à minha volta, como se fosse uma espécie diferente de concentração. O fracasso, nessa obra, não é um fim em si mesmo, aparece, na verdade, como circunstância, fio condutor: a poesia – e a arte, de forma geral –, em tempos hipercapitalistas como os nossos, só pode servir pra resistir, dizer o que a opinião oficial não diz. Senão, é horóscopo do dia.


A metáfora do elefante triste no telhado seria o imponderável da vida nestes momentos difíceis? O elefante e o homem que riem são os que têm os pés no chão?

Tenho três sensações ao pensar num elefante no telhado. A primeira delas me vem como uma pergunta: quem colocou ele ali?. A segunda é a certeza de que ele não vai ficar ali pra sempre, e a partir dessas duas, sinto que tenho um problema. Escrever esse poema foi responder a esses estímulos a partir dessa imagem. Para mim, o elefante é uma maneira de olhar pra si mesmo. E o homem e o elefante, rindo juntos, são uma espécie de reencontro, funcionam como um espelho: ao olhar um pro outro, gostam do que veem. É um poema sobre tristeza, sobre, ao invés de fugir da tristeza, como é costume nos tempos atuais, se colocar ao seu lado.


“A falta é a presença que me resta.” Assim termina o poema A falta, que fala de solidão e desencontro. Cabe ao leitor interpretar que presença é essa. Seria a do reencontro consigo mesmo e com o mundo?

O leitor é sempre senhor na interpretação, mas penso que o poema quer dizer dos momentos de muita solidão, como os que vivemos agora, em que, além da pulsão de morte daqueles com pouca vida interior, é possível reconectar-se com o passado e, assim, consigo mesmo, revivendo e refazendo experiências. Apesar de o poema dizer muito sobre os dias atuais, ele foi escrito em uma fase em que me isolei e passei por momentos muito solitários, mesmo acompanhado.

A falta, caminhando ao meu lado, é tudo que a vida me deu e eu não posso carregar na mochila; ainda assim, por um momento ela era, também, tudo que eu tinha. Essa falta, a incompletude, é uma realidade de todos e devíamos andar com ela do nosso lado, conversar com ela e fazer esforço para entendê-la, como se fosse um animal de estimação.


A tentação do diabo, inclusive a bíblica, atravessa a literatura ocidental, passando por Mefistósfeles em Fausto (Goethe), Doutor Fausto (Thomas Mann), Grande sertão: veredas (Guimarães Rosa) e outras obras. No caso do poema Pobre diabo, entretanto, em vez de pacto, ele diz que não tem culpa de nada. O que dizer disso? Não há mais a quem o ser humano culpar por suas desgraças?

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Sempre pensei muito no encontro do Eduardo, personagem de Encontro marcado, de Fernando Sabino, com o diabo – se não me engano, na Lagoa da Pampulha. É um dos meus livros preferidos desde a adolescência e esse encontro – apesar dos desencontros do livro – é muito marcante. Ali, o personagem sente muito medo da figura diabólica, mas a verdade é que, se eu fosse o diabo e visse o mundo como está, cheio de desinformação, anticiência e fascismos explícitos, teria pavor do ser humano.


                  PUBLICADO EM 26/03/2021 

                    por Valdete F.de Lima Freitas


            OBRA INDICADA PARA O ENEM 2021/2022

                  CLARO ENIGMA de CARLOS DRUMMOND DE                       ANDRADE-

                Poeta mineiro e um dos mais conhecidos poetas da literatura.

               


  1. RESUMOS DE LIVROS

Claro Enigma

Márcia Fernandes

Márcia Fernandes


Professora licenciada em Letras

Claro Enigma é uma obra composta por 42 poemas. Data de 1951 e é da autoria de Carlos Drummond de Andrade, escritor modernista brasileiro.

Inserido na Terceira Fase do Modernismo, conhecida como Pós-Modernista, foi escrito no final da década de 40. Situa-se no período histórico em que teve início a Guerra Fria.

É tendo em conta esse contexto que Drummond transmite melancolia nessa que é a sua oitava obra.

Nela, o autor regressa à forma clássica, abandonando a liberdade de criação, uma das principais tendências do Modernismo.

Resumo

Os 42 poemas constantes no livro apresentam-se distribuídos em seis partes:

I - Entre Lobo e Cão

Composta por 18 poemas, nessa parte o poeta propõe o paradoxo entre a maldade do lobo e a bondade do cão.

Sonetilho do Falso Fernando Pessoa

"Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
E das peles que visto
muitas há que não vi.

Sem mim como sem ti
posso durar. Desisto
de tudo quanto é misto
e que odiei ou senti.

Nem Fausto nem Mefisto,
à deusa que se ri
deste nosso oaristo,

eis-me a dizer: assisto
além, nenhum, aqui,
mas não sou eu, nem isto."

II - Notícias Amorosas

A segunda parte traz 7 poemas que tratam do amor essencial para a vida, o amor genuíno, e não o amor romântico.

"Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?"

(Trecho de Amar)

III - O Menino e os Homens

Na terceira parte são 4 os poemas. Neles Drummond faz uma homenagem aos poetas Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Mário Quintana.

"As amadas do poeta, lá embaixo, na curva do rio, ordenham-se em lenta pavana, e uma a uma, gotas ácidas, desaparecem no poema. É há tantos anos, será ontem, foi amanhã? Signos criptográficos ficam gravados no céu eterno – ou na mesa de um bar abolido, enquanto debruçado sobre o mármore, silenciosamente viaja o poeta Mário Quintana."

(Trecho de Quintana's Bar)


IV - Selo de Minas

Há 5 poemas na quarta parte da obra, cuja temática é Minas Gerais, estado onde nasceu o autor, e sua família.

Nessa parte, portanto, o poeta nos remete ao seu passado.

"A igreja era grande e pobre. Os altares, humildes,
Havia poucas flores. Eram flores de horta.
Sob a luz fraca, na sombra esculpida
(quais as imagens e quais os fiéis?)
ficávamos."

(Trecho de Evocação Mariana)

V - Os Lábios Cerrados

A quinta parte é composta por 6 poemas. O mote é o silêncio.

Nela o autor fala sobre a sua família, especialmente sobre os que já faleceram, por isso, estão silenciosos.

Apesar de não falarem mais, esses parentes continuam fazendo parte da sua vida. Afinal, a família é um dos principais fatores de influência na vida das pessoas.

"Meu pai perdi no tempo e ganho em sonho.
Se a noite me atribui poder de fuga,
sinto logo meu pai e nele ponho
o olhar, lendo-lhe a face, ruga a ruga."

(Trecho de Encontro)

VI - A Máquina do Mundo

Na sexta e última parte há apenas 2 poemas, dentre os quais aquele que foi escolhido como o melhor poema brasileiro do século XX.

Chama-se Máquina do Mundo e faz referência à Camões, que menciona “ a grande máquina do mundo” no canto X de Os Lusíadas.

Drummond transmite a ideia de que ele não vai usar mais a sua máquina, que é a sua poesia.

"E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco

se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas

lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,

a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.

Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável

pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar."

(Trecho de A Máquina do Mundo)

A seguir, o livro encerra-se com o poema Relógio do Rosário.

Análise

O livro transmite a tristeza e a frustração do poeta em decorrência do contexto histórico.

Drummond retoma o estilo clássico, dando importância à métrica, em vez de utilizar versos livres.

Em Claro Enigma detectamos uma característica inerente ao estilo Barroco, o fusionismo, que é a exposição das ideias contrárias.

O título da obra é o exemplo mais marcante disso. Claro Enigma reflete contraste, uma vez que claro é algo que se entende com facilidade, enquanto enigma é algo difícil que precisa ser decifrado.

Leia também Carlos Drummond de Andrade e Pós-Modernismo.

Exercícios

1. (ITA 2005) O livro "Claro Enigma", uma das obras mais importantes de Carlos Drummond de Andrade, foi editado em 1951.

Desse livro consta o poema a seguir.

Memória
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. "Claro Enigma", Rio de Janeiro: Record, 1991.)

Sobre esse texto, é correto dizer que

a. a passagem do tempo acaba por apagar da memória praticamente todas as lembranças humanas; quase nada permanece.

b. a memória de cada pessoa é marcada exclusivamente por aqueles fatos de grande impacto emocional; tudo o mais se perde.

c. a passagem do tempo apaga muitas coisas, mas a memória afetiva registra as coisas que emocionalmente têm importância; essas permanecem.

d. a passagem do tempo atinge as lembranças humanas da mesma forma que envelhece e destrói o mundo material; nada permanece.

e. o homem não tem alternativa contra a passagem do tempo, pois o tempo apaga tudo; a memória nada pode; tudo se perde.

Ver Resposta

2. (PUCCAMP 2010) Valores renascentistas, como o do poder da racionalidade, e os dramas da consciência moderna, a que não falta o sentido de um impasse histórico, entram em conflito em "A máquina do Mundo", de Carlos Drummond de Andrade, já que nesse monumental poema de Claro enigma o autor

a. explora os limites do lirismo dramático de um Oswald de Andrade.

b. propõe-se a investigar os projetos nacionalistas de Mário de Andrade.

c. despoja-se da consciência histórica para realçar as mais livres fantasias.

d. ridiculariza seu destino de homem sentimental e deslocado no mundo.

e. faz frente à razão absoluta com a convicção melancólica de um indivíduo.

Ver Resposta

Atualizado em 29 março 2017


Márcia Fernandes

Márcia Fernandes

Professora, pesquisadora, produtora e gestora de conteúdos on-line. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos.


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Inserido na Terceira Fase do Modernismo, conhecida como Pós-Modernista, foi escrito no final da década de 40. Situa-se no período histórico em que teve início a Guerra Fria.

É tendo em conta esse contexto que Drummond transmite melancolia nessa que é a sua oitava obra.

Nela, o autor regressa à forma clássica, abandonando a liberdade de criação, uma das principais tendências do Modernismo.

Resumo

Os 42 poemas constantes no livro apresentam-se distribuídos em seis partes:

I - Entre Lobo e Cão

Composta por 18 poemas, nessa parte o poeta propõe o paradoxo entre a maldade do lobo e a bondade do cão.

Sonetilho do Falso Fernando Pessoa


"Onde nasci, morri.

Onde morri, existo.

E das peles que visto

muitas há que não vi.


Sem mim como sem ti

posso durar. Desisto

de tudo quanto é misto

e que odiei ou senti.


Nem Fausto nem Mefisto,

à deusa que se ri

deste nosso oaristo,


eis-me a dizer: assisto

além, nenhum, aqui,

mas não sou eu, nem isto."

II - Notícias Amorosas

A segunda parte traz 7 poemas que tratam do amor essencial para a vida, o amor genuíno, e não o amor romântico.

"Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer,

amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados, amar?"


(Trecho de Amar)

III - O Menino e os Homens

Na terceira parte são 4 os poemas. Neles Drummond faz uma homenagem aos poetas Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Mário Quintana.

"As amadas do poeta, lá embaixo, na curva do rio, ordenham-se em lenta pavana, e uma a uma, gotas ácidas, desaparecem no poema. É há tantos anos, será ontem, foi amanhã? Signos criptográficos ficam gravados no céu eterno – ou na mesa de um bar abolido, enquanto debruçado sobre o mármore, silenciosamente viaja o poeta Mário Quintana."


(Trecho de Quintana's Bar)

IV - Selo de Minas

Há 5 poemas na quarta parte da obra, cuja temática é Minas Gerais, estado onde nasceu o autor, e sua família.

Nessa parte, portanto, o poeta nos remete ao seu passado.

"A igreja era grande e pobre. Os altares, humildes,

Havia poucas flores. Eram flores de horta.

Sob a luz fraca, na sombra esculpida

(quais as imagens e quais os fiéis?)

ficávamos."


(Trecho de Evocação Mariana)

V - Os Lábios Cerrados

A quinta parte é composta por 6 poemas. O mote é o silêncio.

Nela o autor fala sobre a sua família, especialmente sobre os que já faleceram, por isso, estão silenciosos.

Apesar de não falarem mais, esses parentes continuam fazendo parte da sua vida. Afinal, a família é um dos principais fatores de influência na vida das pessoas.

"Meu pai perdi no tempo e ganho em sonho.

Se a noite me atribui poder de fuga,

sinto logo meu pai e nele ponho

o olhar, lendo-lhe a face, ruga a ruga."


(Trecho de Encontro)

VI - A Máquina do Mundo

Na sexta e última parte há apenas 2 poemas, dentre os quais aquele que foi escolhido como o melhor poema brasileiro do século XX.

Chama-se Máquina do Mundo e faz referência à Camões, que menciona “ a grande máquina do mundo” no canto X de Os Lusíadas.

Drummond transmite a ideia de que ele não vai usar mais a sua máquina, que é a sua poesia.

"E como eu palmilhasse vagamente

uma estrada de Minas, pedregosa,

e no fecho da tarde um sino rouco


se misturasse ao som de meus sapatos

que era pausado e seco; e aves pairassem

no céu de chumbo, e suas formas pretas


lentamente se fossem diluindo

na escuridão maior, vinda dos montes

e de meu próprio ser desenganado,


a máquina do mundo se entreabriu

para quem de a romper já se esquivava

e só de o ter pensado se carpia.


Abriu-se majestosa e circunspecta,

sem emitir um som que fosse impuro

nem um clarão maior que o tolerável


pelas pupilas gastas na inspeção

contínua e dolorosa do deserto,

e pela mente exausta de mentar."


(Trecho de A Máquina do Mundo)

A seguir, o livro encerra-se com o poema Relógio do Rosário.

Análise

O livro transmite a tristeza e a frustração do poeta em decorrência do contexto histórico.

Drummond retoma o estilo clássico, dando importância à métrica, em vez de utilizar versos livres.

Em Claro Enigma detectamos uma característica inerente ao estilo Barroco, o fusionismo, que é a exposição das ideias contrárias.

O título da obra é o exemplo mais marcante disso. Claro Enigma reflete contraste, uma vez que claro é algo que se entende com facilidade, enquanto enigma é algo difícil que precisa ser decifrado.

Leia também Carlos Drummond de Andrade e Pós-Modernismo.

Exercícios

1. (ITA 2005) O livro "Claro Enigma", uma das obras mais importantes de Carlos Drummond de Andrade, foi editado em 1951.

Desse livro consta o poema a seguir.

Memória

Amar o perdido

deixa confundido

este coração.


Nada pode o olvido

contra o sem sentido

apelo do Não.


As coisas tangíveis

tornam-se insensíveis

à palma da mão.


Mas as coisas findas,

muito mais que lindas,

essas ficarão.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. "Claro Enigma", Rio de Janeiro: Record, 1991.)

Sobre esse texto, é correto dizer que

a. a passagem do tempo acaba por apagar da memória praticamente todas as lembranças humanas; quase nada permanece.

b. a memória de cada pessoa é marcada exclusivamente por aqueles fatos de grande impacto emocional; tudo o mais se perde.

c. a passagem do tempo apaga muitas coisas, mas a memória afetiva registra as coisas que emocionalmente têm importância; essas permanecem.

d. a passagem do tempo atinge as lembranças humanas da mesma forma que envelhece e destrói o mundo material; nada permanece.

e. o homem não tem alternativa contra a passagem do tempo, pois o tempo apaga tudo; a memória nada pode; tudo se perde.

Ver Resposta


Alternativa c: a passagem do tempo apaga muitas coisas, mas a memória afetiva registra as coisas que emocionalmente têm importância; essas permanecem.

2. (PUCCAMP 2010) Valores renascentistas, como o do poder da racionalidade, e os dramas da consciência moderna, a que não falta o sentido de um impasse histórico, entram em conflito em "A máquina do Mundo", de Carlos Drummond de Andrade, já que nesse monumental poema de Claro enigma o autor

a. explora os limites do lirismo dramático de um Oswald de Andrade.

b. propõe-se a investigar os projetos nacionalistas de Mário de Andrade.

c. despoja-se da consciência histórica para realçar as mais livres fantasias.

d. ridiculariza seu destino de homem sentimental e deslocado no mundo.

e. faz frente à razão absoluta com a convicção melancólica de um indivíduo.

Ver Resposta


e. faz frente à razão absoluta com a convicção melancólica de um indivíduo.

Atualizado em 29 março 2017


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                                        por Valdete Freitas

     POEMAS ESCOLHIDOS E ANALISADOS

                                GREGÓRIO DE MATOS

Poemas escolhidos de Gregório de Matos


Laura Aidar
Laura Aidar
 
Arte-educadora e artista visual

A obra Poemas escolhidos de Gregório de Matos é uma compilação de textos poéticos do escritor baiano que viveu no século XVII e foi um importante nome do barroco brasileiro.

A antologia foi organizada pelo professor de literatura brasileira da USP José Miguel Wisnik, sendo publicada nos anos 70.

As vertentes poéticas de Gregório de Matos: 4 poemas analisados

Poesia satírica

A poesia satírica de Gregório de Matos é a mais conhecida de sua produção. Por meio dela, o poeta não hesitou em reprovar a sociedade e o comportamento de pessoas importantes.

Citou, inclusive, nomes de políticos, como o de Antônio Luís da Câmara Coutinho, que governava o estado da Bahia no período.

À cidade da Bahia

Triste Bahia! ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Oeste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus, que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!

No poema em questão podemos observar uma lamentação sobre a situação da Bahia. A palavra "dessemelhante" aqui tem o sentido de "desigual", expondo a contradição econômica do lugar.

Segundo o poeta, o local já foi próspero um dia e, por conta de maus negócios, acabou empobrecendo. A palavra "brichote" significa aqui "gringo" ou "estrangeiro".

O cantor e compositor baiano Caetano Veloso produziu a música Triste Bahia utilizando parte do poema em questão. Além do poema, incluiu pontos de umbanda, canções populares e outras referências. A faixa integra o álbum Transa, de 1972.

Poesia religiosa

Na vertente religiosa de sua poesia, Gregório de Matos também expõe sentimentos conflitantes. No poema abaixo, o escritor pede perdão a Deus e busca redimir-se de toda a culpa que carrega.

Esse poema exemplifica o pensamento cristão que rondava a sociedade da época barroca, na qual o catolicismo e a instituição religiosa exercia grande poder.

A Jesus Cristo Nosso Senhor

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.

Poesia lírico-amorosa

A poesia lírico-amorosa do poeta exibe a figura de musas de maneira romanceada, comparada a elementos da natureza. Traz ainda sentimentos dúbios, onde o pecado e a culpa se mostram presentes.

Aos afetos, e lágrimas derramadas na ausência da dama a quem queria bem

Ardor em firme Coração nascido;
pranto por belos olhos derramado;
incêndio em mares de água disfarçado;
rio de neve em fogo convertido:

tu, que em um peito abrasas escondido;
tu, que em um rosto corres desatado;
quando fogo, em cristais aprisionado;
quando cristal, em chamas derretido.

Se és fogo, como passas brandamente,
se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!

Pois, para temperar a tirania,
como quis que aqui fosse a neve ardente,
permitiu parecesse a chama fria.

O verso "rio de neve em fogo convertido" expõe um eu-lírico que transita entre os extremos do sentimento amoroso, ora gélido como a neve, ora ardente como o fogo.

Convém comparar esse tipo de linguagem a do célebre poema de Camões, que diz: "O amor é fogo que arde sem se ver. É ferida que dói e não se sente."

Poesia lírico-erótica

Gregório de Matos, apesar de escrever sobre o amor de forma delicada, mostra também seu lado mais áspero sobre as relações humanas em alguns poemas considerados eróticos.

E isto é o amor?

Mandai-me Senhores, hoje
que em breves rasgos descreva
do Amor a ilustre prosápia,
e de Cupido as proezas.
Dizem que de clara escuma,
dizem que do mar nascera,
que pegam debaixo d’água
as armas que o amor carrega.

O arco talvez de pipa,
a seta talvez esteira,
despido como um maroto,
cego como uma toupeira

E isto é o Amor? É um corno.
Isto é o Cupido? Má peça.
Aconselho que não comprem
Ainda que lhe achem venda

O amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta.

Finaliza, ainda, de forma desaforada, dizendo que quem não concorda com ele é estúpido.

Quem foi Gregório de Matos?

Gregório de Matos Guerra (1636-1695) nasceu em Salvador, Bahia, durante o período colonial no Brasil.

Vindo de uma família rica de senhores de engenho, Gregório tinha personalidade forte e retratava em poemas as angústias e inquietações de uma sociedade fortemente marcada pelos contrastes do período colonial.

gregório de matos

Recebeu a alcunha de "Boca do Inferno", por conta de sua poesia satírica, em que maldizia todas as camadas da sociedade baiana, desde as classes baixas até a classe dominante, com críticas ácidas à corrupção vigente.

Entretanto, além da poesia satírica, Gregório escreveu poemas líricos, eróticos e religiosos. Todos esses estilos estão presentes na obra Poemas escolhidos de Gregório de Matos.

                                               MAIO 2021

                PUBLICADO POR VALDETE FREITAS

                                    EM 17/05/2021

                            POEMAS COMENTADOS DE MANUEL BANDEIRA

10 poemas memoráveis de Manuel Bandeira


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
 
Doutora em Estudos da Cultura

Manuel Bandeira (1886-1968) foi um dos maiores poetas brasileiros tendo ficado conhecido pelo grande público especialmente pelos célebres versos Vou-me Embora pra Pasárgada e Os sapos.

Mas a verdade é que, além dessas duas grandes criações, a obra do poeta comporta uma série de pérolas pouco conhecidas entre os leitores.

Na tentativa de preencher essa lacuna selecionamos aqui 10 poemas memoráveis do escritor modernista Manuel Bandeira com as suas respectivas explicações.

1. Os sapos

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!

O poema Os sapos (o trecho inicial encontra-se reproduzido acima) foi criado em 1918 e deu o que falar ao ser declamado por Ronald de Carvalho durante a emblemática Semana de Arte Moderna de 1922.

Numa crítica clara ao parnasianismo (movimento literário que definitivamente não representava o poeta), Bandeira constrói esse poema irônico, que tem métrica regular e é profundamente sonoro.

Trata-se aqui de uma paródia, uma maneira divertida encontrada pelo eu-lírico de diferenciar a poesia que praticava daquela que vinha sendo produzida até então.

Os sapos são, na verdade, metáforas para os diferentes tipos de poetas (o poeta modernista, o vaidoso poeta parnasiano, etc). Aos longo dos versos vemos os animais dialogarem sobre como se constrói um poema.

Conheça uma análise aprofundada do poema Os sapos e confira os versos declamados:

2. Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.

— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Esse brevíssimo poema também muito conhecido do autor carrega no título o nome de um procedimento médico. Ao longo das primeiras linhas vemos listados uma série de sintomas.

Se na primeira estrofe o doente sofre sozinho, na segunda parte do poema assistimos a uma consulta com o médico. O doutor dá instruções ao paciente na tentativa de conseguir diagnosticar a doença.

Por fim, assistimos a triste constatação. O paciente ainda tenta encontrar uma saída para o seu problema, mas o médico, é irredutível.

Com num tom poético e ao mesmo tempo irônico, aponta a música como única solução possível.

Leia uma análise completa do Poema Pneumotórax, de Manuel Bandeira.

3. O último poema

Assim eu queria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

A morte é um tema frequente na poética de Bandeira, assim como, em termos estéticos, podemos apontar o uso de versos livresO último poema condensa essas duas características do poeta, que pretende estabelecer com o leitor uma relação de cumplicidade nesse poema metalinguístico.

Os versos acima são característicos de um metapoema, de uma lírica que se debruça sobre ela mesma. O eu-lírico aqui tenta, num tom quase de desabafo, por de pé tudo aquilo que gostaria de inserir no seu último poema.

O interessante é perceber que ao dizer como quereria construir o seu poema, o sujeito poético já constrói o próprio poema.

4. Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Eis o mais consagrado poema de Bandeira: Vou-me embora pra Pasárgada. Aqui encontramos um inegável escapismo, um desejo do eu-lírico de evasão, de sair da sua condição atual rumo a um destino altamente idealizado.

O nome do local não é gratuito: Pasárgada era uma cidade persa (para sermos mais precisos, foi a capital do Primeiro Império Persa). É ali que o sujeito poético se refugia quando sente que não consegue dar conta do seu cotidiano.

Tradicionalmente esse gênero de poética que almeja à liberdade propõe uma fuga para o campo, na lírica do poeta modernista, no entanto, há vários elementos que indicam que essa fuga seria em direção a uma cidade tecnológica.

Em Pasárgada, esse espaço profundamente desejado, não existe solidão e o eu-lírico pode exercer sem limites a sua sexualidade.

Conheça o artigo Análise do poema Vou-me embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira.

5. Teresa

A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)

Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.

Finalmente um poema de amor! Manuel Bandeira ao compor Teresa demonstrou, em versos, como se dá o encontro amoroso.

Desmistificando a noção de amor à primeira vista, o eu-lírico transparece no poema exatamente o que sentiu a primeira vez que encontrou Teresa.

Da segunda vez que se viram também o sujeito poético parece não ter ficado nada encantado pelos atributos físicos daquela que viria a transformar-se na sua amada.

É na última estrofe que testemunhamos o encantamento do eu-lírico, que já não consegue mais descrever a parceira e sim o turbilhão de afetos provocado pela presença dela.

6. O impossível carinho

Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
-Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!

Um poema de amor que recorre aos sentimentos vividos durante a infância, esse é o mote que move O impossível carinho. O eu-lírico não deixa transparecer nenhum aspecto físico ou psicológico da amada, o que sabemos são apenas descrições do sentimento que o arrebata.

Já pela primeira palavra vemos que o sujeito se dirige a alguém, a dona do seu afeto. É com ela que ele deseja partilhar o seu mais íntimo desejo que resulta do sentimento de gratidão. A moça faz com que ele se sinta tão bem que o que brota nele é a vontade de retribuir tudo de bom que recebe.

As alegrias da infância são o oásis sonhado, o lugar de plenitude que o sujeito poético pretende oferecer à amada como forma de agradecimento.

7. Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Nos versos de Poética, Manuel Bandeira se debruça sobre o próprio processo de escrita do poema. Aqui o eu-lírico enfatiza aquilo que aprecia e o que tem repulsa no âmbito da lírica.

Tido como um dos mais importantes poemas do Modernismo brasileiroPoética é um retrato não só da poética de Manuel Bandeira como também de toda uma geração de escritores que não se identificava com o que vinha sendo produzido até então.

Escrito quase como uma espécie de manifesto, por um lado Bandeira nega uma composição rígida, severa, que cumpre normas rigorosas (como faziam os parnasianos) enquanto por outro lado celebra os versos livres, a linguagem informal e a tão contemporânea sensação de liberdade experimentada pelos poetas.

8. Arte de amar

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Esse poema de amor de Bandeira é marcado por uma tristeza e por uma alegria: observamos ao longo dos versos a impossibilidade dos amantes se comunicarem, por outro lado celebramos o fato dos corpos se entenderem apesar das limitações da comunicação.

O sujeito lírico aqui parte do pressuposto que há uma divisão básica entre a alma e o corpo. A alma, segundo o eu-lírico, só é capaz de encontrar sossego em Deus ou no sobrenatural e não em algum ser humano.

Diante dessa lamentável condição, o poema sugere que os corpos - ao contrário das almas - são capazes de se entenderem. O título Arte de amar, versa justamente sobre a oposição corpo e alma e sobre o lugar dos afetos nessa equação.

9. Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento… de desencanto…
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente…
Tristeza esparsa… remorso vão…
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
— Eu faço versos como quem morre.

Desencanto é considerado um metapoema, ou seja, um poema que procura descrever o próprio processo de criação literária.

Nos versos acima é como se o leitor fosse convidado a visitar o escritório do poeta e entender as engrenagens que movem a escrita.

A literatura, nesse caso, é tida como uma espécie de válvula de escape, o lugar onde o sujeito encontra alento para o seu profundo sofrimento. Através da leitura do poema somos capazes de enxergar a dor e o desemparo do poeta, que labuta para transformar os seus transtornos pessoais em palavras.

10. Consoada

Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
— Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

O poema, todo construído a partir de uma metáfora, trata de um tema duro: a preparação para a chegada da morte. É curiosa a escolha do título, bastante simbólico: a consoada é o banquete que acontece na noite de Natal ou na véspera do Ano-Novo.

O tom da escrita é de informalidade, de intimidade e de espontaneidade: o eu-lírico transparece as possíveis reações que teria com a chegada da Indesejada. Os versos, aliás, se constroem com base em duas oposições-chave: a vida e a morte, o dia e a noite.

Podemos concluir, após a leitura dos poucos versos, que embora pareça conformado com o inevitável comparecimento da morte, o sujeito lírico não deseja a sua chegada.

                            PUBLICADO POR VALDETE FREITAS 

                                                EM 31/05/2021

Os 10 melhores poemas de Leminski


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
 
Doutora em Estudos da Cultura

Paulo Leminski foi um grande poeta brasileiro que teve a sua obra reeditada em 2013 sob o título Toda poesia. A partir de então os seus versos viraram febre e alcançaram um público ainda mais amplo.

É de se espantar que uma antologia de poesia tenha liderado os rankings de mais vendidos chegando a desbancar best sellers como 50 tons de cinza. Mas fato é que a poesia cotidiana e acessível de Leminski cativou não só o leitor habituado a lírica como também seduziu quem nunca havia sido grande fã de versos.

Conheça agora os melhores poemas do fenômeno Paulo Leminski.

1. Incenso fosse música

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

Talvez os versos acima sejam os mais conhecidos e celebrados de Leminski. Como uma espécie de cartão postal, Incenso fosse música foi publicado no livro Distraídos venceremos.

O poema convida o leitor a experimentar ser aquilo que se é, sem medos ou amarras, prometendo uma recompensa caso seja realizado o mergulho interior proposto.

Em apenas cinco versos escritos numa linguagem casual e cotidiana, Leminski propõe um desafio de auto-conhecimento para aquele que o lê.

2. Contranarciso

em mim
eu vejo
o outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente centenas

o outro
que há em mim é você
você
e você

assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós

O belíssimo poema Contranarciso usa uma linguagem coloquial e uma construção simples para narrar a mescla de identidades e a fusão que estabelecemos com o outro.

Lemos nos versos ao mesmo tempo uma inquietação por não sermos únicos, fechados e encerrados, mas também a alegria de partilharmos com o outro, de celebrarmos a diferença, deglutindo aquilo que não somos e nos oferecendo para a troca.

É comum na poética de Leminski essa comunhão com o ser humano que é diferente de nós e a celebração do enriquecimento que essa diferença proporciona.

Confira o poema Contranarciso recitado por Guilherme Weber:

3. Buscando o sentido

O sentido, acho, é a entidade mais misteriosa do universo.
Relação, não coisa, entre a consciência, a vivência e as coisas e os eventos.
O sentido dos gestos. O sentido dos produtos. O sentido do ato de existir.
Me recuso (sic) a viver num mundo sem sentido.
Estes anseios/ensaios são incursões em busca do sentido.
Por isso o próprio da natureza do sentido: ele não existe nas coisas, tem que ser
buscado, numa busca que é sua própria fundação.
Só buscar o sentido faz, realmente, sentido.
Tirando isso, não tem sentido.

Publicado em 2012, o livro Ensaios e anseios crípticos, de Leminski, carrega o poema acima. Trata-se de uma das primeiras obras do livro que transparece a inquietação do poeta face ao mistério da vida.

O poema é metalinguístico porque deixa ver as engrenagens que movem a escrita e a consciência do poeta. Longe de enxergarmos um eu-lírico convicto que tudo sabe, testemunhamos a hesitação e a dúvida, a procura de um sentido para a poesia e para o mundo.

4. Riso para Gil

teu riso
reflete no teu canto rima rica
raio de sol
em dente de ouro

“everything is gonna be alright” teu riso
diz sim
teu riso

satisfaz

enquanto o sol
que imita teu riso
não sai

Em sua poesia Leminski celebra grandes nomes da cultura brasileira como, por exemplo, o cantor e compositor Gilberto Gil. Além de Gil, o poeta cita em seus versos Jorge Benjor e Djavan e retoma outros nomes especialmente da cultura negra e baiana.

No poema acima o eu-lírico sublinha o inigualável sorriso de Gil, que de tão expansivo parece transbordar para o seu canto. A meio do poema ele chega a citar um trecho “everything is gonna be alright” (tudo irá ficar bem) da música Three little birds, de Bob Marley, eternizada na voz de Gilberto Gil.

5. Já disse

Já disse de nós.
Já disse de mim.
Já disse do mundo.
Já disse agora,
eu que já disse nunca. Todo mundo sabe,
eu já disse muito.

Tenho a impressão
que já disse tudo.
E tudo foi tão de repente...

O poema acima denuncia a fugacidade do tempo. Em apenas nove versos Leminski resume o seu projeto poético (falar de si, falar de nós e falar do mundo) e o seu fôlego para a escrita ("eu já disse muito").

Diante da sua prolixa poética, o eu-lírico parece demonstrar cansaço com tudo o que fez no passado ("tenho a impressão que já disse tudo"). E, ao mesmo tempo, transparece uma espécie de saudosismo com aquilo que viveu.

6. Suprassumo da quintessência

O papel é curto.

Viver é comprido.

Oculto ou ambíguo,

tudo o que eu digo

tem ultrassentido.

Se rio de mim,

me levem a sério.

Ironia estéril?

Vai nesse ínterim,

meu inframistério.

Suprassumos da Quintessência foi publicado no livro póstumo La vie en close (1991) - que claramente faz um trocadilho com a música francesa de Édith Piaf, La vie en rose.

Os versos acima são claramente uma meta-poesia, isto é, um exercício do próprio poeta de explicar a composição da sua poética. É como se o eu-lírico fornecesse ao leitor uma espécie de bula ou de manual de instruções sobre como a obra deve ser lida.

Nos versos de Suprassumos da Quintessência assistimos o impasse vivido pelo poeta: como colocar a vida - por definição comprida - em papel?

O poema parece ser um desdobramento do poema publicado anos antes, inserido no livro Distraídos Venceremos (1987):

rio do mistério

o que seria de mim

se me levassem a sério?

7. Amar você é coisa de minutos...

Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui

Embora não seja tão conhecido pela sua composição amorosa, Leminski também escreveu uma lírica apaixonada, caso de Amar você é coisa de minutos.

Nos versos acima encontramos um eu-lírico absolutamente encantado pela sua amada, que encontra no sentimento forças para superar todas as barreiras. Ele se coloca aos pés da amada e diz que promete ser aquilo que ela desejar.

Confira o poema de amor recitado:

8. Não discuto

não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino

O pequeno poeminha composto com os quatro versos é dos mais celebrados da obra de Paulo Leminski. Os versos ficaram tão conhecidos que já se tornaram até motivo de tatuagem:

tattoo

Sucinto e facilmente reproduzível, os versos traduzem a resignação do eu-lírico, a postura de conformidade e aceitação com o que o destino oferece.

Ao invés de se debater com aquilo que foi enviado pelo desconhecido, o sujeito parece receber com serenidade e gratidão aquilo que lhe cabe.

9. Bem no fundo

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Publicado no livro Distraídos venceremos (1987) o poema acima é capaz de provocar no leitor uma identificação praticamente imediata. Quem afinal nunca desejou ver os seus problemas resolvidos por decreto?

Com uma linguagem acessível e cotidiana, o poema se constrói como uma espécie de conversa íntima, basta reparar como trejeitos típicos da oralidade são reproduzidos nos versos (a repetição inicial usada para dar ênfase é um bom exemplo de marca oral).

É interessante perceber também como o eu-lírico se coloca ao lado do leitor e passa a falar na primeira pessoa do plural se identificando com ele ("a gente gostaria de ver nossos problemas").

O final do poema é marcado por um traço de humor e ironia. Quando achamos que os problemas foram todos embora resolvidos por decreto vemos que eles retornam, com descendência, provando que é impossível extirpar o mal de uma só vez.

10. Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

Em Invernáculo Leminski se dobra sobre e a questão da linguagem e constrói um poema autorreflexivo. Ao longo dos versos o eu-lírico observa como é trabalhar tendo a língua - algo que o antecede e que o sucederá - como matéria-prima.

Percebemos no poema como o autor se coloca como uma espécie de "vítima da língua", alguém que vive a merce das suas normas e obrigações. Por ser um herdeiro desse patrimônio linguístico (que nem ao menos pertence ao seu país, tendo sido originalmente trazido de Portugal), o eu-lírico sente-se de certa forma intimidado e bloqueado.

A língua lusa, como ele se refere, não é a sua ("Esta não é a minha língua"), e promove um sentimento de não pertencimento na sua própria língua. A alternativa encontrada é trabalhar em busca da sua própria experiência com a língua, a margem da formalidade.

Sobre a publicação de Toda poesia

Lançado em 2013 pela editora Companhia das Letras, a antologia Toda poesia pretendia reunir os trabalhos realizados por Paulo Leminski entre 1944 e 1989.

A edição não se resumiu a uma mera coletânea de poemas esparços até então publicados em livros diversos. Toda poesia contou com a inclusão de comentários críticos - vale sublinhar a apresentação da poeta Alice Ruiz e o trabalho primoroso de José Miguel Wisnik - e depoimentos sobre Leminski e sobre a sua obra.

O mérito da coletânea foi também trazer ao grande público poemas que se encontravam fora de circulação há anos. Algumas publicações de Leminski foram praticamente artesanais e com tiragem curta, o que dificultava o alcance do leitor.

Capa da publicação Toda poesia, de Paulo Leminski.
Capa da publicação Toda poesia, de Paulo Leminski.

Confira o booktrailer do livro que contém poemas de Leminski lidos por Arnaldo Antunes:

Biografia de Paulo Leminski

Paulo Leminski foi poeta, romancista, compositor e tradutor. Nasceu em Curitiba (no Paraná), em 1944, e faleceu na mesma cidade, com cirrose hepática, em 1989, aos apenas 45 anos.

Foi filho de um casal bastante heterogêneo: Paulo Leminski (um militar de origem polonesa) e Áurea Pereira Mendes (uma dona de casa de origem africana).

Apesar da tentativa dos pais de fazer com que o menino ingressasse na vida religiosa (ele estudou no Mosteiro de São Bento), já em 1963 Leminski viajou para Belo Horizonte para participar da Semana Nacional de Poesia e de Vanguarda.

Retrato de Paulo Leminski.
Retrato de Paulo Leminski.

Foi lá que conheceu os já grandes poetas Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari, fundadores do Movimento da Poesia Concreta.

Leminski publicou o seu primeiro livro - o romance Catatau - em 1976. Também lançou algumas poesias na revista Invenção, do movimento concretista. A partir de então a sua produção literária seguiu de vento em popa.

Profissionalmente atuou como professor de história e redação além de ter participado como diretor de criação e redator em algumas agências de publicidade. Como tradutor trabalhou com grandes obras de autoria de Joyce e Beckett.

Na vida pessoal foi casado com Alice Ruiz, também poeta, e teve três filhos: Miguel Ângelo, Áurea e Estrela.

Fotografia do casal Alice Ruiz e Paulo Leminski.
Fotografia do casal Alice Ruiz e Paulo Leminski.

Obras publicadas

  • Catatau (1976)
  • Não Fosse Isso e Era Menos/Não Fosse Tanto/e Era Quase (1980)
  • Caprichos e Relaxos (1983)
  • Agora é Que São Elas (1984)
  • Anseios Crípticos (1986)
  • Distraídos Venceremos (1987)
  • Guerra Dentro da Gente (1988)
  • La Vie Em Close (1991)
  • Metamorfose (1994)
  • O Ex-Estranho (1996)


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